Newsletter Yellow Pad | janeiro 2022
Tédio, Historiadores, Competências, Diários de Prática e Comunicação
Segundo reza a lenda, a ideia original para o que viria a ser o Harry Potter ocorreu a J.K. Rowling em 1990 num comboio que se atrasou na travessia de Manchester para Londres. Na altura o Steve Jobs ainda não tinha lançado o iPhone e a Netflix não tinha sequer começado a enviar DVDs por correio. Um dos maiores impérios literários de sempre terá, especula-se, sido o resultado de puro aborrecimento.
Podemos discutir se estaremos a instrumentalizar o tédio, a atribuir-lhe uma função, um propósito, mas a verdade é que, pelo menos neste caso, ele parece ter cumprido um papel importante no processo de dar forma a uma ideia. E não será exemplo único: quando questionado sobre a sua vida nos meses que medeiam o fim de um livro e o começo de um livro novo, António Lobo Antunes respondeu
:“A maior parte do tempo, fico sem fazer nada. Isso é muito importante para mim. Depois, as coisas vão-se formando a pouco e pouco, sem que tenha consciência.”
Parece-me por isso curioso que, 30 anos mais tarde, a mesma J.K. Rowling tenha decidido lançar um feitiço para banir o tédio das vidas das crianças. Não precisarão, também elas, de momentos de ócio? De tempo e espaço para criar personagens, histórias e universos que não existem?
A este respeito, vale a pena ouvir ainda outro escritor, Gonçalo M. Tavares
:“O tédio é uma sensação muito importante. Se eu tivesse de aconselhar alguma coisa para a escola, em geral, seria que se ensinasse a lidar com o tédio.”
Acrescento eu: o mesmo para as empresas, por favor! 🙋🏻♀️
E agora os temas deste mês, vamos a isto!
Historiadores nas empresas
A identidade de uma organização faz-se de milhares de pequenas histórias. Saber como surgiu, que decisões críticas marcaram o seu caminho e que mudanças testemunhou e fez acontecer é uma forma de entender melhor o seu propósito e os valores que a orientam. Inspirada por esta ideia, este mês escrevi sobre a importância dos historiadores, formais e informais, na preservação do legado das empresas.
12 Competências para 2022
Todos os anos, diferentes publicações partilham uma lista de competências-chave para o ano seguinte. Em geral não trazem nada de muito transformador, mas esta compilação da IDEO U parece-me ser um bom testemunho das transformações que temos vivido e lança a discussão em torno de algumas necessidades que nas empresas já se começam a fazer sentir. O meu top 3 para 2022: Cultivating Joy, Frame Shifting e Creating Community.
100 dias de prática
Descobri recentemente, ao ler o livro The Curious Advantage, que manter um registo escrito ou visual ao longo de uma jornada de aprendizagem tem um grande impacto no processo, porque permite documentar o progresso que vamos fazendo e reduz a ansiedade associada a aprender algo novo. E não é uma técnica exclusiva para novatos: o Austin Kleon partilha exemplos de artistas experientes que o fazem.
Comunicação à distância
No report sobre Trabalho Remoto que publiquei em 2021, escrevi sobre o Basecamp como um exemplo de vanguarda. Agora que muitas empresas se começam a deparar com os desafios associados ao modelo de trabalho híbrido, este guia pode ser útil. De forma simples e resumida, detalha os princípios, práticas e ferramentas de comunicação que resultam de mais de 20 anos de experiência acumulada de trabalho à distância. Os princípios 5, 9 e 11 deviam ser emoldurados.
Estas foram algumas das ideias que passaram pelos meus cadernos ao longo deste mês e que escolhi partilhar contigo.
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Excerto retirado do livro “Os escritores (também) têm coisas a dizer”
Idem
Um dos meus temas favoritos: tédio, que nunca desligo do ócio e do lazer.