Newsletter Yellow Pad | fevereiro 2022
Trabalho Sombra, Gestão de Conhecimento, Trabalho Remoto e Crowdsourcing
“Quando Jaime aqui vivia, para atravessar da margem onde estão as casas para a das terras de cultivo era preciso ir de barco. Havia um barqueiro a tempo inteiro, pago por todos, que empurrava a embarcação usando uma vara de sete metros empurrada contra o fundo do rio, explica António Marques, de 89 anos, imitando o movimento com a sua bengala impulsionada contra o chão de linóleo. (...) A ponte, construída em 1955, 17 anos depois de Jaime ter saído, tornou embarcações e barqueiros obsoletos.”
De acordo com o jornalista e escritor Oliver Burkeman, o “trabalho sombra”, ou seja, as tarefas que fazemos de graça e que beneficiam outros, é a razão pela qual nos sentimos tão ocupados.
Tal como a construção de pontes permitiu que tarefa de transportar pessoas fosse transferida dos barqueiros para os “transportados”, que passaram a fazer a travessia entre margens pelos próprios meios, a revolução tecnológica dos últimos anos terá permitido que muitas empresas transferissem uma série de tarefas que até então estavam a seu cargo para nós, clientes. Um bom exemplo é o da caixa de supermercado.
Sem nos apercebermos, juntamos aos nossos dias missões que não eram nossas. A ponte permite-nos chegar mais depressa. Mas vamos mais cansados e, sobretudo, mais sozinhos.
E agora os temas deste mês, vamos a isto!
Perda de conhecimento
O tema da gestão de conhecimento é-me muito querido, e nos últimos anos tenho tido a sorte de o estudar e aprofundar. Este mês escrevi sobre o impacto da perda de conhecimento para organizações e trabalhadores independentes, partindo das histórias reais de dois Chefs que perderam temporariamente o paladar.
Ler o artigo (em inglês)
Competências moles e duras
Na última edição da newsletter partilhei uma lista de competências para 2022. Intencionalmente optei por não chamar a atenção para o facto de todas serem soft skills, porque me parece que acentuar a distinção que lhe está subjacente (entre competências soft e hard) é um exercício estéril. Nem de propósito, recentemente o João Sevilhano publicou um artigo em que explica porquê, muito melhor do que eu teria sido capaz de o fazer.
Trabalhar em cafés
Para quem gosta das vantagens do trabalho remoto mas não aguenta passar o tempo todo em casa, trabalhar pontualmente em espaços públicos pode ser uma solução. A Buffer, que já leva uns anos de avanço nisto do teletrabalho, partilhou em 2018 uma lista de boas práticas para quem trabalha em cafés. Vale a pena revisitar.
Líderes criadores de aquário
Outra empresa que sabe muito de trabalho remoto, a Officeless, partilhou uma aula (algo longa) sobre os desafios do trabalho híbrido. Uma das imagens que mais me marcou (talvez por os meus pais terem uma loja de aquariofilia 😜) foi a dos “líderes criadores de aquário”: pessoas que, quando vão apresentar o escritório a alguém, mostram com orgulho as salas cheias de pessoas a trabalhar, como se fosse um sinal de comprometimento e produtividade. A crença de que só convocando as pessoas para um mesmo espaço podemos garantir que estão a trabalhar continua a ser um dos principais obstáculos à transição para modelos de trabalho não presenciais.
Assistir à aula (1h56 - a ideia é exposta em torno do minuto 20)
Cartas da Natureza
Sou em geral bastante crítica do trabalho que a minha Universidade faz para promover a aproximação à comunidade, mas este projeto é uma boa exceção à regra: através da plataforma online de ciência-cidadã Zooniverse, o Jardim Botânico da Universidade de Coimbra convidou voluntários do mundo inteiro a transcrever centenas de cartas endereçadas aos seus dirigentes, jardineiros e outros colaboradores entre 1870 e 1928. Um modelo interessante de crowdsourcing como acelerador da investigação.
Estas foram algumas das ideias que passaram pelos meus cadernos ao longo deste mês e que escolhi partilhar contigo.
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Coisas de loucos: O que eles deixaram no manicómio, Catarina Gomes
Muito obrigado pela referência, Ana!
Seria muito interessante analisar o trabalho sombra criado entre as grandes empresas e os seus fornecedores.